Veja a preparação por dentro

Descobri minha gravidez e comecei a agir como geralmente eu faço em situações desconhecidas: fui ler e pesquisar para aliviar meu medo e tomar minhas decisões sobre como eu queria percorrer diante à notícia. Comecei a pesquisar sobre PARTO HUMANIZADO e descobri que sabia muito pouco sobre o assunto. E descobri também como o parto normal é visto muitas vezes como um vilão para muitas mulheres, que associam esse momento a uma experiência de dor e sofrimento.

Minha jornada iniciou quando eu assisti o tão necessário documentário O RENASCIMENTO DO PARTO. Ali, entendi muito sobre as violências obstétricas e a influência pesada da construção machista e patriarcal sobre o PARTO. E sobre a gravidez, eu só tinha a certeza de que 1. Eu queria o filho; 2. Eu queria um parto humanizado; 3. Eu queria parto natural; 4. Eu queria usar o SUS. Tudo isso baseado nas minhas ideologias, lutas e valores pessoais.

A partir disso então, comecei meu pré-natal pelo PSF do meu bairro e, paralelo a isso, busquei estudar e ler mais sobre gravidez, parto e puerpério. O segundo passo então, foi procurar uma doula para me ajudar a viver essa jornada. Com a doula, entendi as reais necessidades de uma cesárea e que elas também podem ser humanizadas.

Então conheci o PLANO DE PARTO (uma ferramenta essencial da família no momento do parto) que minha doula anja Laíza Gomes me ajudou a construir, ela é uma pessoa maravilhosa e foi essencial para me ajudar, que eu tivesse meu parto dos sonhos. Além das dicas maravilhosas para o parto e pós-parto, ela me foi uma grande fonte de força e empoderamento e me fez a todo momento acreditar que eu era capaz.

Meu trabalho de parto começou quando completamos 39 semanas e 6 dias. Mas antes disso, eu tive alguns sinais de que estava se aproximando. No domingo, eu acordei bem tarde (por volta das 12h) e fui tomando banho e percebi que o tampão mucoso havia saído; comentei com meu esposo, apesar de estar em dúvida se era isso mesmo, então mandei mensagem para a doula explicando o que estava acontecendo e ela logo me disse que realmente se tratava do tampão e que era indícios de que estava se aproximando da hora de eu conhecer Murilo.

Quando foi na segunda, iniciou o conhecido como pródomos do trabalho de parto. Eu sentia minha barriga contraindo e uma leve dor parecida com cólica menstrual, mas essas contrações não eram ritmadas e aconteciam em horários aleatórios, mandei mensagem novamente para a doula e ela me alertou que era mais um sinal; porém, poderia ser um dia ou em dias para que Murilo nascesse. Segurei minha ansiedade, fiz algumas técnicas de relaxamento à noite em casa (alguma já sabia por prática na psicologia), tomei um banho bem demorado, despedi da minha barriga, conversei com meu filho e disse para ele que eu já estava pronta para quando ele viesse. Passamos a segunda e terça dessa forma.

Na quarta-feira às 5h da manhã, meu corpo entra em trabalho de parto. Acordei com a sensação de que estava molhada e achei que era xixi; chamei meu marido e ele não acordou (haha) e corri pro banheiro. Fiquei querendo entender se era a bolsa que havia estourado mas não estava um líquido como deveria ser, era mais próximo do tampão mesmo e em questão de minutos veio uma contração muito forte que me fez entender que era o trabalho de parto, entrei no chuveiro quente e esperei pra ver se passava mas foi o contrário, veio outra mais forte ainda, olhei no relógio e era 5:20h, gritei por Jean e ele levantou, chegou na porta do banheiro e eu disse: “Murilo está chegando!”, em seguida outra contração… Fiquei ali embaixo do chuveiro com algumas contrações não ritmadas, o app de contar as contrações Iigado e Jean auxiliando até às 05:40h. Depois pedi pra sair do chuveiro, fui para a sala e sentei no sofá, e então as contrações continuavam mas em ritmos diferentes e intensidades diferentes. Jean contava, eu mandei mensagem para a doula falando que tinha começado (foi então a última vez que peguei no celular até Murilo nascer e a partir disso só me concentrei no meu corpo e no meu filho).

Meu trabalho de parto evoluiu muito rápido sendo no total 8h da fase latente até o nascimento de Murilo.

Chegamos no hospital por volta das 10h, enquanto Jean estava responsável pela parte burocrática da internação eu fui encaminhada para a sala de parto porque já estava com 6cm de dilatação. A sala tinha bola de pilates e a enfermeira já me recebeu lendo meu plano de parto, me oferecendo para sentar na bola e fazer movimentos que ajudariam para que ele nascesse, eu fiquei pouco ali e já pedi a banheira com água quente (foi ai que tudo ficou mais rápido), entrei na banheira e nessa hora eu já estava na partolândia, vocalizava, olhava atentamente para o nada (haha), chegou um momento que ficou tão forte que eu pedi para me tirarem dali porque estava queimando tudo e eu queria fazer cocô (na verdade era Murilo que tinha encaixado).

Levantei da banheira com a ajuda da equipe e também do meu esposo, subi na maca e não conseguia mais . me movimentar direito, lembro então da enfermeira me pedir permissão para fazer o toque, eu aceitei e quando disseram “dilatação completa” eu olhei para o relógio na minha frente e era em torno de 12:30h, daí começou o expulsivo e eu gritava muito alto e apertava as mãos do meu esposo e da enfermeira, queimava tudo, mas eu sentia a cabeça de Murilo e que ele já estava muito próximo, me entreguei e recebi meu filho depois.

Pari na maca em posição ginecológica (litotômica) que não é exatamente a mais indicada, mas eu escolhi ficar assim porque era o que estava mais confortável, a enfermeira sugeriu que eu mudasse de posição, mas eu quis assim e dessa forma me deixaram. Ali ficamos, na nossa Hora Dourada, contemplando nossa família recém-nascida. Murilo foi examinado no meu colo. Espertinho, logo encontrou o peito e mamou. E foi só depois que a placenta nasceu que o cordão foi cortado pelo pai de Murilo ♥

De tudo o que vivi, me marcou o respeito. O silêncio daquelas duas mulheres (enfermeira e residente) maravilhosas que me acompanhavam soava como “nós respeitamos você”. Senti-me segura, fortalecida, capaz de qualquer coisa. Hoje, meu desejo é o de que toda mulher tenha a chance de uma assistência e valorização como as que tivemos. Às equipes do HUCF e de Pediatras e à querida doula Laiza Gomes, gratidão infinita. Que muitas mulheres e bebês tenham a sorte de encontrar vocês! Ao papai, a pessoa mais terna que conhecemos, todo amor. Sem vocês, nós não teríamos conseguido.

Quando meu filho estava com 1 ano e 3 meses eu descobri que estava grávida novamente, dessa vez eu queria fazer tudo diferente. Foi então que a Laíza disse que eu precisaria me preparar, mas que eu era capaz. Ela me ajudou a superar todos os meus medos de parir, trabalhou minha mente para eu entender que o parto normal é seguro e eu capaz de parir, ela me explicou e me treinou sobre o que fazer em cada fase do trabalho de parto.

Minha gestação passou das 40s, mas mesmo assim não desisti de parir, porque agora eu não tinha tanto medo. Entrei em trabalho de parto com quase 41s, meu parto foi super rápido. Fui pro hospital com 7cm de dilatação, para mim uma Vitória porque eu realmente soube o que fazer antes de ir para o hospital. No hospital em pouco mais de 2 horas eu já estava com minha filha nos braços. Fico emocionada só de lembrar, eu nem sei explicar a minha alegria e o que eu senti naquele momento. O pós-operatório foi maravilhoso, nem se compara com uma cesárea. Se eu tiver outro filho, com certeza vai ser de parto normal, e com certeza vou me preparar com a Laíza novamente, porque no parto eu realmente fiquei muito segura. Meu único arrependimento é meu primeiro filho não ter sido normal também, mas tá bom, cada um tem sua história e a gente vai aprendendo.